Não me abala a estrutura emocional essa questão do fim do
mundo estar se aproximando.
Antes, morrerei de curiosidade em saber como tudo irá pro
espaço, isso se o espaço não for pro espaço também.
Se tudo escafeder-se, o que é que posso fazer?
Caso fique sozinho no mundo poderei defender uns livros
pra me fazer companhia, algumas revistas, fotos, a minha câmera digital,
cobertores e travesseiros, umas garrafas de vinho. E sairia por aí em busca de
algum outro lugar desabitado bem mais aprazível.
Caso reste apenas poeira e chuva ácida, aí sim, seria
motivo de preocupação. Adoeceria e diminuiria de tamanho até me transformar num
inseto horribilíssimo. Não consigo me imaginar definhando nessas condições
desumanas.
Mas esse inseto também morreria logo e se desintegraria ou
viraria fóssil. Melhor o nada, vai que um ser de outro planeta surja por aqui e
ache uma pedra com um inseto incrustado ali e resolva recolhê-lo para que seus
semelhantes fiquem me observando em vitrines.
Ninguém me espia nem morto. Adoro o anonimato, ando pensando
até em heterônimos, quem sabe adoto uns pra quando chegar na paralelicidade
poder safar-me de críticos e pseudo intelectuais.
O bug do milênio se foi. Engraçado é que toda vez que alguém
aguarda uma catástrofe o normal é olhar pro céu. Merda vem de cima, quem foi
que defendeu essa tese? Algum físico? Pelo menos existe alguma monografia
explicando sobre a direção de onde a merda vem? Poderemos ser chupados,
engolidos, afogados por gêisers. Poderá vir de lado, numa rajada do vento Endless.
Esgueirou-se o bug, agora falam do agonizante fim dos
tempos.
Temer o fim do mundo? E adianta? É pra encher os
reservatórios de água, comprar fósforos e velas? Dará tempo de comer um pão
francês com manteiga e presunto caso a viagem seja longa e eu sinta fome?
Pra onde iremos? Tem futebol? Carnaval? Goró?